Desculpas a Darwin, católicos divididos
Desculpas a Darwin, católicos divididos
As desculpas da Igreja anglicana a Charles Darwin são um ato de honestidade intelectual, embora se deva evitar santificar o naturalista inglês e manter, portanto, aberto o debate sobre o fenômeno da vida, sobre o qual sua teoria evolucionista dá uma explicação apenas parcial”. O teólogo Vito Mancuso, autor do bestseller A alma e seu destino [L’anima e il suo destino] (Raffaello Cortina), comenta favoravelmente as novidades provenientes da Grã Bretanha e pede que também a Igreja de Roma dê um passo concreto na mesma direção.
A reportagem é de Antonio Carioti e publicada pelo jornal Corriere della Sera, 16-09-2008.
“Escreverei uma carta aberta – anuncia Mancuso – ao monsenhor Gianfranco Ravasi que, como presidente do Pontifício conselho da cultura, está preparando um simpósio sobre a evolução, para solicitar-lhe um gesto em referência a Teilhard de Chardin, cientista e jesuíta francês que procurou conciliar a teoria da evolução com o cristianismo e, em 1962, foi atingido por um monitum¸ uma advertência do Santo Ofício que acentuava em suas obras graves erros. Retirar o monitum diz obviamente respeito à Congregação para a doutrina da fé, o ex-Santo Ofício, mas Ravasi poderia dar um importante sinal, confiando um dos relatos previstos no simpósio ao teólogo Carlo Molari, um sacerdote romanholo, já ancião, que foi excluído da docência precisamente como seguidor do pensamento de Teilhard de Chardin.
Embora sem se pronunciar sobre o monitum do Santo Ofício, também monsenhor Fiorenzo Facchini, paleontólogo, autor de vários ensaios publicados por Jaca Book, promove Teilhard de Chardin: “Além de algumas expressões ambíguas, que poderiam ser interpretadas em sentido panteísta (isto é, como se identificassem Deus e o mundo), complexivamente sua obra não está em contradição com o Magistério, tanto é verdade que em 1981 houve um reconhecimento a seu respeito da parte do cardeal Agostino Casaroli”.
Facchini acrescenta que também entre Darwin e a Igreja católica não há contas em suspenso: “No plano científico, evolução e doutrina cristã são compatíveis. No entanto, como observou recentemente Bento XVI, Darwin vê somente uma parte da verdade, aquela referente aos mecanismos biológicos. Há, todavia, fundamentais questões de significado sobre a natureza do homem, às quais só se pode responder colocando-se num plano diferente, de caráter filosófico e religioso”.
Outros expoentes do mundo católico negam, no entanto, ao darwinismo a dignidade de teoria científica. Por exemplo, o historiador Roberto de Mattei, presidente da Fundação Lepanto: “A evolução é tão somente uma hipótese filosófica que ainda não encontrou um sério respaldo por parte da pesquisa empírica e teve traduções catastróficas no plano político com os regimes totalitários De fato, o comunismo nasce da síntese entre Hegel e Darwin, realizada por Karl Marx, enquanto o racismo hitlerista extrai suas origens de uma mescla entre o mesmo Darwin e Friedrich Nietzsche”. Não é por nada que Mattei recusa a idéia de reabilitar Teilhard de Chardin: “Seu pensamento é uma típica expressão do modernismo do século vinte, que foi condenado por São Pio X na encíclica Pascendi de 1907 e está em contradição também com a Fides et Ratio de João Paulo II, na qual é rejeitada toda forma de evolucionismo teológico. A meu ver, Teilhard de Chardin merece continuar às margens da Igreja, porque sua filosofia resulta num panteísmo cósmico, incompatível com a visão de um Deus transcendente”.
Pensa-o de modo diverso outra historiadora de área católica, Lucetta Scaraffia: “Considero muito interessante, embora seja talvez um pouco otimista demais, a tentativa realizada por Teilhard de Chardin de conciliar a teoria científica evolucionista com uma visão do universo religiosamente inspirada. Como todos os estudos fortemente inovadores, ele suscitou desconfianças e teve problemas com o Santo Ofício, mas hoje ele me parece amplamente recuperado. Quanto a Darwin, é preciso distinguir suas teorias científicas do uso anti-religioso que tem sido feito pela propaganda atéia para atacar o cristianismo, reproposto ainda hoje pelos cientistas, como, p.ex., Piergiorgio Odifreddi. Mas, na verdade, o evolucionismo suscita hostilidades principalmente nos protestantes, muito ligados à letra do texto bíblico, enquanto se torna mais facilmente aceitável da parte dos católicos, os quais sempre admitiram uma interpretação alegórica das Escrituras”.
De seu lado, o tradicionalista Maurizio Blondet, embora hostil aos fundamentalistas protestantes no plano religioso e político, está de acordo com eles na luta contra o darwinismo, contra o qual escreveu o livro “L’uccellosauro e altri animali [O pássaro-sauro e outros animais]” Effedieffe). “A teoria da evolução- declara ele – é mantida de pé pela corporação dos biólogos, mas é desmentida constantemente pelas descobertas da paleontologia e da genética. O grande mérito dos evangélicos americanos tem sido o de dar coragem aos numerosos cientistas que não expressavam suas dúvidas sobre a visão dominante, por temor de arruinarem sua carreira. Que, pois, hoje os anglicanos peçam desculpas a Darwin, se deve àquela obsessão deletéria do politicamente correto, que está provocando uma enorme desorientação também no interior da Igreja católica”.
Fonte: Unisinos
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