
O não de Obama aos ateus: ‘Jurarei invocando a Deus’
O nome de Deus é invocado muito frequentemente pelo Estado norte-americano. “In God we trust”, confiamos em Deus, é a legenda estampada nas suas cédulas de dinheiro. “One nation under God”, uma nação sob as ordens de Deus, aparece no Juramento à Bandeira de 1954, a era do anticomunismo. “God bless America”, Deus abençoe a América, é a frase final dos discursos presidenciais. E na sua inauguração, o novo presidente pede “So help me God”, que Deus me ajude. Uma tradição, defendem muitos historiadores, iniciada por George Washington em 1789 (ainda têm-se dúvidas a respeito) e observada só por alguns de seus sucessores, mas tornada costume em 1933, com Franklin Roosevelt, que, talvez secretamente, duvidada que conseguiria salvar o país da Grande Depressão sem o apoio divino.
A reportagem é de Ennio Carretto, publicada no jornal Corriere della Sera, 14-01-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As contínuas invocações a Deus perturbaram tanto os ateus americanos – segundo os quais são inconstitucionais – que um de seus expoentes, o médico californiano Michael Newdow, colocou na justiça (em nome de 10 associações e 17 pessoas) os comitês organizadores da posse de
Obama, os dois pregadores Joseph Lowery e
Rick Warren, que farão as orações, assim como o presidente da Suprema Corte,
John Roberts, pedindo que, na cerimônia, não se pronuncie a palavra “Deus” e que Obama não conclua o solene juramento – “Juro solenemente que executarei fielmente o cargo de presidente dos Estados Unidos e farei o meu melhor para preservar, proteger e defender a Constituição” – com o fatídico “So help me God”.
É difícil que o tribunal federal sentencie a tempo – o pedido é do dia 31 de dezembro –, ou melhor, é provável que acabe por rejeitá-la.
Mas Obama, que é religioso e jurará sobre a Bíblia de Lincoln, o presidente da abolição da escravidão, antecipou-se afirmando que irá dizer “Deus me ajude”. É uma invocação que não atinge o princípio da separação Estado-Igreja, indicaram os porta-vozes, e que não viola a Constituição, cujo primeiro artigo veta o Congresso de estabelecer uma religião nos Estados Unidos. Um ato de fé apropriado em um momento muito delicado para o país.
Newdow explicou não ter citado Obama pessoalmente, “porque, como cidadão, ele tem o dierito de observar a sua religião”, mas por ainda esperar que ele diga “So help me God” em privado. E acrescentou que, se falhar no tribunal, irá recorrer, para obter que, depois das eleições de 2012, Obama e o seu sucessor renunciem ao “Deus me ajude”.
Uma missão impossível? Newdow já falhou em 2001 e 2005, na posse de Bush à Casa Branca, época em que os neoconservadores brigavam para que os EUA se definissem como uma república cristã. Os fiéis norte-americanos o atacaram. “Ele quer que o Estado desminta a existência de Deus”, rebateu Scott Walter, da Fundação pela Liberdade Religiosa. “Mas os nossos valores se baseiam nessa existência”.
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