Albert Camus é sensível à humanidade de Cristo’
Albert Camus é sensível à humanidade de Cristo’ | |
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O filósofo Arnaud Corbic descreveu, no colóquio “Camus, a filosofia e o cristianismo”, realizado por ocasião do 50º aniversário da morte de Albert Camus, a ligação deste com o cristianismo. O colóquio aconteceu na metade de março no Instituto Católico de Paris. Corbic é autor de Camus et l’homme sans Dieu [Camus e o homem sem Deus], Cerf. A entrevista é de Élodie Maurot e está publicada no jornal La Croix, 15-03-2010. A tradução é do Cepat. Eis a entrevista. De que maneira a questão do cristianismo está presente em Camus? Para ele, o cristianismo representa uma sedução e uma impossibilidade. “O pensamento católico sempre me parece doce-amargo. Ele seduz e depois me choca”, confiou o jovem liceu ao seu professor de filosofia, Jean Grenier. Para ele, a questão de Deus é irresolúvel. Descrente, Camus sabe não repousar na descrença. Quem são os interlocutores cristãos? Podemos citar alguns: Santo Agostinho, São Francisco de Assis e Pascal. Cada uma dessas figuras é relida de maneira muito pessoal. Em Agostinho, Camus vê o único grande espírito cristão que encarou de frente o problema do mal. Francisco de Assisrepresenta para ele uma outra visão do cristianismo mediterrâneo, um “amante da natureza e da vida” que justifica “aqueles que têm o gosto pela felicidade”. Essa ligação com o santo de Assis é indissociável do amor dos pobres e de um olhar positivo em relação à pobreza e seu mistério. Enfim, o filósofo Pascal é para Camus o homem do questionamento sobre Deus. Mas, como ele dirá, ele é daqueles “que Pascal transforma, mas não converte”. Como Camus justifica o agnosticismo? Ele não deixou de admirar o Cristo em sua humanidade, mas não crê em sua ressurreição. “Cristo morreu talvez por todos, mas não por mim”, escreve nos Carnets. Ele não diz que a verdade cristã é ilusória, mas apenas que ele não conseguiu penetrá-la. Camus é sensível, exclusiva mas profundamente, à humanidade de Cristo. Sua ética não é marcada por uma forma de espiritualidade ou de sagrado? Camus opta por uma existência sem Deus, mas não sem sagrado. É um sagrado emprestado do helenismo, marcado pela presença carnal do mundo, do cosmos e da natureza. Sua ética da revolta e do amor não está livre do sagrado. Em Camus, o amor envolve a revolta e o evita de cair no niilismo. É uma revolta que desemboca na vida. É preciso, então, falar de uma forma de “santidade laica”? O ideal de santidade laica – “ser santo sem Deus” – não é a de Camus. É aquela de um de seus personagens em A Peste, Tarrou. O que interessa a Camus, e do qual odoutor Rieux é o porta-voz, é “ser um homem”. O médico é a figura emblemática desse homem solidário, que não busca um heroísmo virtuoso. Quais são as críticas endereçadas ao cristianismo e à Igreja? Em que Camus ainda questiona os cristãos? A crítica do cristianismo de Camus é largamente tributária de Nietzsche. Assim como ele, Camus se vê “fiel à terra”. Ele critica os “mundos do além” que oferecem a ilusão de uma outra vida, quando conta apenas a existência presente. Camus não tem, portanto, exigência particular em relação aos cristãos, ele lhes pede justamente para se conformarem com as exigências de uma ética comum. O que ele não admite é vê-los faltar aos seus deveres de seres humanos. Quanto à Igreja institucional, Camus reprova “sua indiferença” e sua aliança com as “forças conservadoras”. Em uma entrevista em 1948, ele declara: “Eu levarei a Igreja a sério quando seus chefes espirituais falarem a linguagem de todo o mundo e viverem eles próprios a vida perigosa e miserável que é a da grande maioria”. Para Camus, os cristãos são chamados para se comprometerem com os mais despossuídos. Caso contrário, diz ele, “os cristãos viverão e o cristianismo morrerá”. |
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