O ser e o nada!

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A maioria das pessoas que se dispõem a abraçarem o  ateísmo o fazem não por uma linha argumentativa intelectual; mas por decepções com aqueles que se dizem teístas, ou dos “representantes” das divindades. como se uma coisa dependesse e implicasse necessariamente da outra.
Isto não é ser brilhante intelectualmente ou seguir as evidências; é uma forma de escape por não conseguir conciliar uma práxis sadia já construída mentalmente, um desencanto com o mundo. Acho extremamente rico o conflito intelectual de se tentar conciliar a existência de um Deus sumum bonum com o mal no mundo, denota um caráter de preocupação e espanto. Um grito contra a limitada criação.
Não tenho nada contra serem ateus no mundo de hoje e muito menos no decorrer da história, porém é pura covardia o fazê-lo a partir de outras contestações, se não de uma incorformidade com estado do mundo. Lembrando a máxima de Dostoiévski; “Se Deus não existe tudo é permitido”. Um escape moral para fazer o que bem der na cabeça.
Fugir do deus metafisico-conceitual, moralizado, projeções de nossas debilidades não significa abandonar a busca, fugir deste deus que já nasceu natimorto é uma conclusão lógica.
Resta uma busca sincera ao Deus que se faz presente, Nietzsche é um retrato trágico desta luta:
“Dá-me a ti, cruel inimigo! Foi-se ele fugiu, o meu único companheiro, o meu grande inimigo, o meu Deus verdugo!
Não! Torna com os teus suplícios!
Toma o último dos solitários! Volta! Todas as minhas lágrimas correm em tua procura! E por ti desperta a derradeira chama do meu coração! Oh! Volta, Deus incógnito! Minha dor! Minha última ventura” – Assim falava Zaratrustra (O encantador): Um livro para todos e para ninguém – F. Nietzsche
Há uma diferença ontológica entre Deus e sua criação, fato que não contradiz a maior das afirmações cristãs: – O Deus transcendente do além-mundo se torna imanente na pessoa de Jesus o Cristo. O Deus absconditus se torna o Deus revelatus; uma resposta silenciosa, mas que grita aos quatro cantos da terra em resposta a argumentação de Pilatos momentos antes da crucifixão de Jesus:
– Quid és veritas? Ev. de São João 18,30
Nietzsche em sua obra prima citada acima só pode ser entendida à luz de sua “experiência religiosa”; nasceu em um lar luterano da Alemanha do século XIX vindo a se decepcionar nas suas vivências (luteranas). Não enxergar esta faceta em Nietzsche implica em miopia hermenêutica de sua obra filosófica.
Sem uma compreensão da vivencia religiosa de Nietzsche é impossível adentrar em suas mais profundas criticas.
Teve contato com o pensamento de Tolstoi e sua critica à monolítica expressão desvirtuada chamada “igreja”, uma igreja estatal que havia perdido a vivência comunitária. Nietzsche a partir daí constrói sua critica a organização eclesial.
Vem por outro lado a conhecer o pensamento de outro literato russo. Fiodor Dostoiévski com seus personagens enigmáticos  trazem em si uma compreensão quase profética do que é Deus entre e diante do homem, como um horizonte perpetuo para a fundamentação de uma existência que aprendeu e aprende a lidar com as dúvidas.
Para Dostiéviski o homem sem Deus não passa de mais um recurso mineral, uma verdade nua e crua da qual a maioria dos ateus se recusam a tocá-la. Retirar Deus do horizonte é retirar qualquer tentativa de construção intelectual e racional do mundo, é despir a criação de qualquer significado é chegar ao extremo do niilismo, acerca do qual não há volta.
O ateísmo é o ato de estender a mão a um universo vazio!

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